Evento “NÓS da Pesca – tecendo o futuro”

Evento “NÓS da Pesca – tecendo o futuro”

O Evento celebrará o primeiro ano de conexão dos Projetos “Vamos Desenredar” e “Rede de Mulheres pela Vida Marinha”, realizados ao longo do ano de 2024 e início de 2025, em todo o litoral da Baixada Santista. Esta celebração contará com participantes de comunidades pesqueiras de todas as cidades em que os projetos foram executados, sendo um momento único para troca de saberes e cultura caiçara, abrindo novas possibilidades para conservação marinha integrada a pesca sustentável.

Os Projetos possuem o intuito de sensibilizar pescadores artesanais e mulheres de comunidades pesqueiras a contribuírem com a prática da pesca sustentável, incentivando-os a realizar o descarte adequado de materiais de pesca e a reutilização desses itens para a confecção de artesanatos. Ambos se complementam ao fortalecerem a cultura caiçara dos pescadores artesanais na região, estimular a proteção da biodiversidade marinha e incentivar o micro empreendedorismo e autonomia financeira feminina.

O evento é uma realização do Instituto Gremar através dos Projetos Vamos Desenredar e Rede de Mulheres pela Vida Marinha, executados em parceria com a empresa Santos Brasil.

A arte da pesca

Sustentabilidade é sobre usufruir de um bem sem comprometer a sua disponibilidade para as gerações atuais e futuras. Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) evidenciam a importância em se manter os oceanos saudáveis para a manutenção da vida no planeta.

A crise ambiental que enfrentamos hoje nos faz focar nos recursos naturais, como os estoques pesqueiros. Porém, é necessário ir além e considerar a sustentabilidade sociocultural, expandindo a noção de bens para os culturais e humanos, como os saberes tradicionais da pesca.

O patrimônio pesqueiro correlaciona o patrimônio cultural e natural, abarcando conhecimentos e tradições de comunidades que conhecem e respeitam profundamente os oceanos. Santos possui o maior Complexo Portuário da América Latina e, apesar de ser um ponto de passagem internacional de mercadorias, localmente, a cultura caiçara resiste através das gerações, nos municípios da Baixada Santista.

Se por um lado, lidamos com impactos ambientais que ameaçam os ecossistemas e a vida marinha, por outro, não podemos ignorar as questões sociais atreladas a eles.

Com oceanos menos produtivos, a insegurança alimentar e financeira ameaçam as comunidades costeiras e colocam em risco as tradições da pesca artesanal.

O que isso diz sobre o futuro que precisamos?

Trabalhando com as comunidades – redes de ação

As comunidades pesqueiras conhecem o mar como ninguém e contribuem com conhecimentos valiosos sobre a sua dinâmica. Por isso, unindo esforços, podemos criar verdadeiras redes de ação para o futuro que queremos.

  1. Vamos desenredar”

Em média, uma rede de pesca pode ser usada de 6 meses a 1 ano. Devido ao volume e espaço que ocupam, muitos pescadores possuem dificuldades para realizar o descarte das redes. Atualmente, muitas redes são feitas com polímeros do petróleo – plásticos tóxicos e de lenta degradação – então, por que não dar a elas outro destino?

Através do projeto Vamos Desenredar, com a entrega voluntária de redes pelos pescadores, entre 2024 e 2025, cerca de 5 toneladas de redes foram destinadas de forma mais sustentável, evitando que elas pudessem afetar a vida marinha e apoiando uma economia circular.

  1. Rede de mulheres pela vida marinha”

A pesca ainda é um universo muito masculino e excludente, o que torna figuras femininas raras ou secundárias no ramo. As mulheres associadas à atividade pesqueira, no geral, trabalham na limpeza do pescado, na venda ou nas tarefas domésticas que mantém o núcleo familiar. Mesmo assim, as mulheres ainda estão muito inteiradas da dinâmica da pesca e resistindo nesses espaços.

Somente na primeira edição, o projeto capacitou, por meio de oficinas, vivências e palestras, 50 mulheres, sobre o reaproveitamento de materiais de pesca para a produção e venda de artesanatos.

Mais do que a transformação destes materiais, as discussões também incluíram conversas sobre empoderamento feminino, defesa pessoal, empreendedorismo e saúde da mulher, de modo a criar um espaço seguro para trocas que foram além da pesca, aproximando-as para juntas repensarem o papel feminino dentro do contexto de cada uma. Elas puderam explorar a sua criatividade com maior autonomia, além de poder apoiar a segurança financeira familiar.

“… pensava rede? Aquela que vai pro lixo? Dá pra aproveitar? Mas dá pra fazer tanta coisa! Além de você ganhar uma renda com um material que iria para o lixo, você começa ver outra coisa alí, isso brilha os olhos! Eu não imaginava, poxa eu vender meu próprio artesanato, achei muito legal.”

– Vânia

Patrimônio pesqueiro

Uma rede, por maior que seja, é sempre formada por fios.

Se buscamos uma ação coletiva para responder os problemas ambientais que enfrentamos, diariamente temos que trabalhar entrelaçando todos os fios, sem jamais deixar de fora as comunidades tradicionais que são o fio condutor entre nossa sociedade e o meio ambiente.

Proibir a pesca não é o que vai salvar os estoques pesqueiros, mas trabalhar junto das comunidades é um caminho de respeitar o patrimônio pesqueiro pela sua natureza cultural e ambiental.

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