Com a chegada do inverno no Hemisfério Sul, também se inicia o período migratório de diversas espécies, que saem em busca de alimento rumo à costa brasileira. É o caso do pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus). Durante este trajeto, porém, muitos fatores podem ocasionar o encalhe dos animais, tanto de origem natural, como em consequência de ações antrópicas.
Em 2020, contudo, aconteceu algo bastante atípico: entre os dias 20 de junho e 1º de novembro, somente o Instituto Gremar realizou o resgate de um total de 437 pinguins em diversas praias nas cidades de Santos, São Vicente, Guarujá e Bertioga (SP). Destes, 290 já estavam em óbito e 147 foram encontrados ainda com vida. Ainda assim, muitos não conseguiram sobreviver após o resgate, pois já se encontravam em estado gravíssimo de saúde, com sinais de exaustão, desidratação e escore corporal baixo. Outros pinguins apresentavam ferimentos leves e resíduos sólidos no trato gastrointestinal, sugerindo interações antrópicas.
Graças ao trabalho incansável da equipe, após um complexo processo de reabilitação, que envolveu tratamento medicamentoso, exames complementares regulares, fisioterapias, nutrição balanceada e progressiva, sessões de fortalecimento da musculatura e testes de impermeabilização das penas, alguns desses animais foram considerados aptos à soltura.
A reintegração dos indivíduos vivos ocorreu em dois momentos distintos. Em um primeiro dia, um grupo de 31 pinguins, já com condições de saúde estabilizadas, voltou ao mar na região do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, no dia 11 de setembro de 2020. Além dos indivíduos que estavam sob o cuidado do Instituto Gremar, também foram incluídos nesta ação outros, que foram atendidos por outras Instituições.
A segunda soltura ocorreu no dia 19 de novembro, no mesmo local, com a reintegração de um grupo de 19 pinguins. Destes, 6 aves foram estabilizadas pelo Instituto Biopesca, totalizando 13 aves reabilitadas pela equipe do Instituto Gremar. Elas apresentavam, em sua maioria, lesões severas ou estado clínico debilitado. Além disso, outras seis aves foram reabilitadas pelo IPeC e transferidas para o Gremar, sendo unidas ao grupo para a soltura.
Tivemos, portanto um total de 50 pinguins-de-Magalhães soltos no ano de 2020, número bastante significativo frente à condição bastante debilitada que os animais chegavam de maneira geral. Podemos considerar este um caso de sucesso, que gerou bons e duradouros frutos em diversas áreas, sendo uma experiência que será por nós sempre lembrada e comemorada. Percebemos em todo o processo um enorme crescimento individual e profissional da equipe, além do sentimento de integração e comprometimento muito grande entre todas Instituições envolvidas.
Os pinguins-de-Magalhães são uma espécie migratória e extremamente social, portanto para que haja uma soltura de sucesso é essencial que os animais sejam reintegrados à natureza em grupos pois com um maior número de indivíduos saudáveis, maior a chance de sobrevivência do bando e que eles obtenham sucesso neste processo de migração.